quinta-feira, 24 de novembro de 2011

PARAÍBA: Médicos afirmam que hospital está sucateado

Os médicos e residente do hospital Lauro Wanderley (HU) paralisam suas atividades entre os dias 25 e 30 deste mês.

A principal alegação dos médicos da instituição é o sucateamento de uma das principais unidades hospitalares do Estado.

Em carta à imprensa, os médicos fizeram um detalhamento da atual situação do HU e afirmam que todos os “improvisos” possíveis para continuar atendendo já foram feitos e que a situação chegou ao limite do insustentável.

“ Durante o ano de 2011 assistimos o Hospital declinar e atingir níveis críticos, nunca vistos anteriormente por nós, profissionais de saúde que já freqüentam a instituição há tantos anos. Nos últimos meses o desabastecimento de materiais de uso hospitalar tornou difícil diagnosticarmos e tratarmos nossos pacientes de maneira adequada”, diz a nota.

O comunicado encerra fazendo um apelo para que a Superintendência do hospital explique a população sobre os motivos que levaram a não resolução ou transferência dos pacientes que se encontram em pré-operatório, bem como justificar porque a reforma que se anunciou sequer começou.

Confira a íntegra da carta.

HOSPITAL UNIVERSITÁRIO LAURO WANDERLEY - HULW
SERVIÇO DE CIRURGIA GERAL
MÉDICOS RESIDENTES DE CIRURGIA GERAL

Aos órgãos de imprensa

Nós, médicos residentes de Cirurgia Geral do Hospital Universitário Lauro Wanderley (HULW) vimos a público externar a nossa indignação perante a situação em que se encontra o HULW, local onde adquirimos a maioria dos conhecimentos que nos permite exercer nossa profissão, bem como também foi o local escolhido por nós para realizar nossa especialização, pois acreditamos na capacidade e qualidade dos profissionais formados nesta instituição.

Sentimo-nos na obrigação de esclarecer a população acerca da atual realidade vivida pelos profissionais de saúde que trabalham no Hospital, bem como pelos pacientes que ainda encontram-se internados no HULW.

Durante o ano de 2011 assistimos o Hospital declinar e atingir níveis críticos, nunca vistos anteriormente por nós, profissionais de saúde que já freqüentam a instituição há tantos anos. Nos últimos meses o desabastecimento de materiais de uso hospitalar tornou difícil diagnosticarmos e tratarmos nossos pacientes de maneira adequada. A residência médica é um programa de treinamento, no qual médicos já formados adquirem conhecimento prático através de um sistema de tutoria – com médicos mais graduados nos guiando e orientando – necessário em especialidades que necessitam de habilidades avançadas, cujo exemplo clássico é a cirurgia, especialidade que estamos cursando no HULW. Nós, médicos, ainda realizando complementação da nossa formação, somos obrigados a conviver e exercitar o uso da palavra “IMPROVISAR”, para mantermos o funcionamento básico do Hospital.

Houve dias em que tivemos que suspender cirurgias por falta de drenos, sondas, coletores, compressas, fios, anestésicos seguros, aspiradores(material mínimo para realizar procedimentos básicos). Outros tantos dias, “improvisamos” material para não deixar sem atendimento nossos pacientes, maiores prejudicados com esta situação. É importante deixar claro que fechamento do centro cirúrgico prejudica todo o Hospital, pois várias doenças precisam de algum procedimento cirúrgico ( biópsias, por exemplo) que também não estão sendo realizadas.

Muitas vezes solicitávamos exames laboratoriais e a resposta que recebíamos do laboratório era FALTA DE REAGENTE, houve semanas que faltava reagente para verificar função renal, função hepática, equilíbrio hidroeletrolítico, nutrição, itens básicos e indispensáveis(que possibilita acompanhar a evolução ou diagnosticar precocemente complicações) para seguimento pós-operatório da maioria dos casos. Sem citar a demora dos exames anátomo-patológicos que possibilitam fechar o diagnóstico de câncer, bem como o período em que ficam sem ser realizados pela simples falta de álcool para fixar as lâminas e permitir a análise por parte do patologista. Houve dias em que pacientes deixaram de realizar exames de urina pela falta de recipientes coletores para encaminhar o material ao laboratório.

O quadro de desabastecimento foi se agravando e os médicos cirurgiões e anestesistas verificaram que prosseguir com a execução de cirurgias tornava-se inviável, sem anestésicos seguros, material de consumo cirúrgico básico, necessário até para procedimentos de baixa complexidade.

A Diretoria do HULW afirma que os recursos estão limitados e a dificuldade de reabastecer o Hospital com material básico é crescente e veio a público em vários meios de comunicação informar à população que o Centro Cirúrgico seria reformado, levando a uma paralisação completa das cirurgias eletivas por um período mínimo de 70 dias. Durante este período, segundo declarações feitas pelo Superintendente do HULW em jornais locais, os pacientes internados e ainda não operados seriam transferidos para outros hospitais para realização dos procedimentos. Porém gostaríamos de relatar o descaso com que estes pacientes têm sido tratados. A diretoria foi procurada inúmeras vezes para tratar a respeito da resolução da situação dos pacientes, mas nada resolveu. 

Dois dos três pacientes que ainda encontram-se internados apresentam doenças graves(neoplasias malignas) mas, com chance de cura ou melhora do prognóstico com a realização do procedimento cirúrgico. Em nenhum momento estes pacientes foram procurados pela diretoria (mesmo com inúmeras solicitações nossas) para receber satisfação do que seria feito nos seus casos, assim como foi dito pela Superintendência à imprensa. Todos os dias temos que pedir aos pacientes com doenças graves que aguardem uma decisão da diretoria, que os mesmos com muita paciência aguardam.

Solicitamos que a Superintendência do Hospital venha novamente a público dar explicações a população sobre os motivos que levaram a não resolução ou transferência dos pacientes que se encontram em pré-operatório, bem como justificar porque a reforma que se anunciou sequer começou, nem há cronograma oficial com prazos para retorno de atividades cirúrgicas, além da falta de materiais básicos que prejudicam o funcionamento de todos os setores do Hospital.

É com muito pesar que relatamos tais fatos que tanto prejudicam a população assistida pelo HULW, bem como a formação de inúmeros profissionais de saúde pela UFPB.

Atenciosamente:

Adriano Rodrigues Silva

Daniel Pires Pessoa

David Pessoa Morano

Éddio Dantas do Nascimento

Hayrton Carneiro de Andrade

Helton Veloso de Moura

Lorena Sousa Oliveira

Matheus Leite Rolim

Pricilla Antunes Martins

Rodolfo Lúcio Alves Tito

Solonelli Soares Pacheco


Portalcorreio

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