sábado, 2 de abril de 2011

Cerca de 30 pessoas vivem entre os pilares da Ponte Newton Navarro

Por Maiara Felipe, do DIÁRIO DE NATAL
Uma história anunciada pelo descaso. A menina de 10 meses F.C.S. nasceu dentro de um dos pilares da Ponte Newton Navarro, onde mora com seus pais e mais cinco irmãos. Conhecida como "filha da ponte" entre os cerca de 30 moradores que residem em seis pilares da estrutura, a criança, assim como um de seus irmãos mais velhos, nunca viu uma casa de alvenaria. Desde que nasceram, o endereço fixo é: Pilar da ponte, próximo ao terminal de ônibus, no bairro da Redinha. Terezinha, a mãe de 19 anos, foi morar dentro do pilar pouco tempo depois do local ser inaugurado, em 2007. Não tem água ou luz, o calor dentro dos pilares é enorme, sobram mosquitos devido à proximidade com o mangue, e os objetos, que tornam o retângulo de concreto parecido com um lar, são retirados dos lixões de Natal.

Envolvimento com drogas, fugir da violência das ruas, falta de emprego, muitas são as justificativas de quem escolhe viver dentro de um pilar de uma ponte. Independente do que eles digam, ogrande problema daquelas pessoas é a situação desumana a qual elas estão submetidas. A luz vem do candieiro, a água fica disponível em uma casa desocupada nas proximidades da praia e a comida é o resultado da soma de esmolas e a plantação ao lado de "casa". Cada pilar é dividido em duas colunas ocas que são sustentadas por uma base de concreto. "Uma serve como cozinha e a outra como quarto", explicou a moradora Iara Maria de Souza, 40 anos, enquanto estava sentada no velho sofá situado entre as duas pilastras, um tipo de sala.

Por causa da espessura das paredes de concreto, a sensação térmica dentro do pilar é alta. Tanto Iara como Terezinha declararam que é impossível dormir lá dentro. A saída encontrada pelos moradores é passar as noites na "sala". " Quando chove a gente tem que entrar", lembra Terezinha. Os mosquitos também tem uma participação na hora de dormir. São tantos que a pele de Iara é marcada de picadas da perna até o rosto. As crianças são as que mais sofrem. F.C.S., de 10 meses, que passa maior parte do tempo sem roupa, tem o corpo tão marcado quanto a vizinha de 40 anos.

Não só fisicamente, mas de uma forma geral, é preocupante a situação das crianças. Os dois irmãos da menina, na faixa estária dos cinco anos, ganharam o primeiro brinquedo há três meses e logo trataram de chamá-lo pelo nome. É o "burrinho Tiago". As crianças dos pilares passam boa parte do tempo brincando com o animal como se fosse um boneco. Enquanto puxavam Tiago pela cordinha, a reportagem do Diário de Natal perguntou se os meninos não tinha brinquedo. Com a cara assustada, eles responderam imediatamente: "A gente brinca assim", disseram, mostrando o animal.

Mas, se por um lado morar perto do mangue traz consequências ruins, por outro é a salvação para muitos dos que estão perto. " Só passa fome aqui se a pessoa não tiver coragem mesmo. Tem como pegar peixe na praia, pegar coisa no mangue", disse Terezinha, que planta feijão e batata para ajudar na alimentação. Às vezes, quando conseguem um bom número de "coisas catadas" nolixo, o pessoal do pilar da ponte compra comida. Mas isso é so de vez em quando mesmo. Durante toda a entrevista Iara enfatizou bem: pede mais esmola do que faz compras.
Secretaria conhece situação das famílias

A diretora de Proteção Social da Secretaria Municipal de Assistência Social (Semtas), Verônica Dantas, informou que a última visita feita pelo órgão aos moradore dos pilares da ponte Newton Navarro só constatou a presença de oito pessoas, realidade diferente da presenciada pela reportagem do Diário de Natal ontem. " Uma equipe foi lá e verificou a situação daquelas pessoas e fez os primeiros encaminhamentos", disse Verônica.

Segundo ela, existem pessoas do interior que não querem voltar para seu local de origem, mesmo com ajuda da assistência social do município. Terezinha, por exemplo, é de Cana Brava, distrito de Ceará Mirim,e afirma que a situação lá é pior que a vivida em Natal.

Verônica garante que encaminhou os relatórios com os pedidos de moradia à Secretaria Municipal de Habitação e Regularização Fundiária (Seharpe), assim como ao Conselhor Tutelar, que pode ajudar a solucionar a situação das crianças. " Encaminhamos relatórios ao Conselho Tutelar para eles tomarem as medidas cabíveis em relação àscrianças", declarou a diretora.

DNonline

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