quarta-feira, 7 de dezembro de 2011

RN: O verão chegou. A segurança ainda não.

 Tribuna do Norte - Andrielle Mendes

Terça-feira. 22 de fevereiro de 2011. Três homens armados entram numa casa de veraneio em Caraúbas, distrito de Maxaranguape, rendem Mateus Barreto Torres, 19, e mais quatro colegas. Os jovens são conduzidos até o quarto e lá permanecem sob ameaça até o fim da ação. Os assaltantes levam R$15 mil em portáteis, joias e eletroeletrônicos. Cenas como esta são cada vez mais comuns no litoral do Rio Grande do Norte. Embora não tenha números, o comandante geral da Polícia Militar, coronel Araújo Silva, confirma que a quantidade de arrastões e arrombamentos nas cidades litorâneas aumenta no veraneio. No último sábado, a equipe de reportagem percorreu o litoral Norte e constatou que as praias não estão prontas para receber os turistas durante a alta estação. Moradores e veranistas reclamam da falta de  infraestrutura, e acima de tudo, da falta de policiamento. Das seis praias visitadas, apenas três contam com um ponto de apoio da Polícia Militar. Dos três pontos, apenas um estava aberto. A equipe, porém, cruzou com viaturas policiais que faziam ronda em três das seis praias visitadas. De acordo com o comando, as praias de Jenipabu, Redinha, Santa Rita, Pitangui, Graçandu e Barra do Rio, visitadas pela Tribuna, são atendidas por um destacamento da Companhia da Polícia Militar em Extremoz. A operação verão, que reforça a segurança no litoral, será lançada a partir do dia 16.

Adriano AbreuMoradores e visitantes das praias do litoral potiguar se preparam para mais um veraneio com problemas de segurança, limpeza e falta de fiscalizaçãoMoradores e visitantes das praias do litoral potiguar se preparam para mais um veraneio com problemas de segurança, limpeza e falta de fiscalização

Leonardo Pinheiro Filho, bancário aposentado, não quer esperar até lá. Ele procura "um doido" para comprar sua casa de praia em Jenipabu antes da alta estação. "Os assaltantes chegaram com uma caminhonete na casa da minha vizinha e levaram tudo. Estou vendo a hora levarem as coisas da minha casa". Leonardo visita a casa quinzenalmente. O aposentado instalou câmeras de vigilância e contratou um vigia. Nem assim, permanece muito tempo na casa. "Deus me livre ficar aqui a noite". Leonardo não é o único a querer se desfazer da casa de veraneio. Em Jenipabu, dezenas de casas estão a venda. 

Para evitar arrastões e arrombamentos, Glariston Couto, estudante universitário, instalou câmeras de vigilância, cerca elétrica, refletores e segurança eletrônica. O muro é alto e repleto de cacos de vidro. Na casa, também há sete cães. "O que eu puder fazer me proteger, farei". O professor universitário José Jailson da Silva gasta R$ 500 por mês com segurança privada. Com casa de praia em Graçandu, próximo a Pitangui, paga R$200 ao vigilante e R$300 ao zelador. Jailson já viu a casa da vizinha ser invadida e prefere não arriscar. "Arrombamentos são comuns. Na semana passada, arrombaram a casa de um outro vizinho". Basta anoitecer para Jailson trancar todas as portas. "Antes não era assim. Dormíamos na varanda com as portas destrancadas".

O comerciante Pedro Ricardo Freire, que mora há oito anos em Redinha Nova, presenciou três arrobamentos no mesmo dia. O comércio dele também já foi assaltado. "Vivo assustado". Segundo Ricardo, o policiamento é precário em Redinha Nova. A ausência da Polícia, associada a falta de iluminação pública e a grande quantidade de imóveis desocupados durante a baixa estação, transforma as casas de veraneio em ponto de encontro para consumidores de droga e torcidas organizadas.

Enquanto o policiamento não é reforçado, cidadãos se arriscam . Alda Maria Silva, que mora em Pitangui há 3 anos, esqueceu do perigo e enfrentou o assaltante cara a cara. "Estava jantando com minha família, quando percebi que um desconhecido observava a minha casa pela janela. Peguei um facão e corri atrás do homem. Minha filha ligou para o posto policial, mas ninguém atendeu. Aqui é Deus por nós e cada um por si".

Insegurança no litoral do RN é antiga

No dia que a equipe de reportagem visitou o litoral Norte, apenas um dos três postos policiais estava aberto: o de Redinha Nova. Em Jenipabu e Pitangui, os postos estavam fechados. Em Redinha Velha, Jenipabu e Graçandu, a equipe encontrou viaturas fazendo a ronda. Em Pitangui, os policiais almoçavam num restaurante próximo ao ponto de apoio. A situação não é diferente da retratada pela Tribuna do Norte em matéria publicada no dia 4 de setembro. Na maioria das praias visitadas, o prédio fica fechado quando a viatura faz a ronda policial, conforme informaram moradores. Os moradores de Pitangui também reclamaram da dificuldade em entrar em contato com a polícia.

Em entrevista concedida a Tribuna do Norte em setembro, o comando geral da Polícia Militar informou que havia destacamento policial em toda a extensão do litoral do Estado. No caso do policiamento ostensivo, dos policiais militares da região metropolitana de Natal, 500 policiais militares atuavam nas cidades litorâneas, a pé, de moto ou viaturas, em regime de escala, segundo o comandante de policiamento da Região Metropolitana de Natal, coronel Wellington Alves Pinto.

No litoral norte, visitado pela equipe de reportagem em setembro e em dezembro, um oficial da Companhia da PM em Ceará-Mirim havia sido designado para reorganizar o policiamento e fazer um planejamento mais amplo, como afirmou coronel Araújo, em entrevista concedida em setembro.

População sofre sem infraestrutura

As reclamações, porém, não se resumem a falta de policiamento. Lixo acumulado na praia e na comunidade, calçadas quebradas, iluminação precária e abrigos de ônibus depredados são alguns dos problemas observados nas cidades litorâneas. Jean Alves de Oliveira, que trabalha há 12 anos na praia, por exemplo, se queixava da falta de banheiros químicos na Redinha Velha. Havia lixo nas pedras e na beira da praia. Na Redinha Nova, o lixo acumula-se nas ruas. Há muito mato e entulho. Segundo Gercina Paes dos Santos Ehmsen, que mora na Redinha Nova há dez anos, a coleta de lixo não é feita com regularidade. As casas desocupadas, segundo populares, servem de ponto de encontro para consumidores de droga e torcidas organizadas. A iluminação é precária, aumentando o risco de assalto. "Redinha Nova está abandonada", afirma Gercina.  Em Pitangui, cidade litorânea cuja população triplica durante o veraneio, os orelhões estão quebrados. O tráfego intenso de buggys na praia coloca a vida dos banhistas em risco. A equipe de reportagem flagrou dois veículos estacionados na beira da praia no último sábado. A praia estava limpa. Mas também não havia banheiros químicos. De todas as praias do litoral norte visitadas no último sábado, a equipe de reportagem encontrou guardas-vidas apenas na Redinha Nova. Segundo um dos guarda-vidas que pediu para não ser identificado, são quatro bombeiros para todo o litoral norte. 
 
Segundo matéria publicada pela TN em setembro, o RN tem um deficit de 2,4 mil bombeiros.

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