Beira-Mar partiu do Aeroporto Dix-sept Rosado durante a manhã de ontem, em uma missão absolutamente sigilosa, segundo o advogado Otoniel Maia Júnior, que representa o traficante no Rio Grande do Norte. A saída de Beira-Mar foi antecipada. O prazo de permanência dele em Mossoró era até julho, explica o advogado, mas ele foi transferido antes. A medida atende quesitos estabelecidos pelo Depen, autorizados pela Justiça Federal. "Ele foi levado e só depois é que nós fomos informados sobre a transferência. Ninguém esperava que isso acontecesse agora porque ainda tinha prazo", diz.
Beira-Mar é considerado pela Polícia fluminense como um dos principais membros do Comando Vermelho, principal facção criminosa do Rio, e sua saída de Mossoró ocorreu justamente no momento em que o atual número 1 da facção chegou. De acordo com as investigações feitas pela Polícia carioca, FB é apontado atualmente como o chefe do Comando Vermelho e possivelmente esse foi o motivo da saída de Beira-Mar, logo após sua chegada. O advogado Otoniel Maia Júnior disse que não foi informado sobre o motivo da transferência. Ele recebeu apenas a confirmação, negada para os jornalistas.
Ontem à tarde, o diretor interino do presídio federal Nilton Azevedo, disse que não iria se pronunciar sobre a transferência. "A imprensa tem ligado para cá com essa informação (transferência de Beira-Mar), mas não sabemos nada sobre isso aqui. Se soubéssemos, não poderíamos falar."
Prisões foram criadas para isolar chefões como Beira-Mar
O Sistema Penitenciário Federal (SPF) foi criado em 2006, com a previsão de cinco prisões de segurança máxima (quatro estão funcionando e a quinta em construção), com o objetivo principal de isolar os chefes do crime organizado que continuavam exercendo seu comando presos em prisões estaduais. Beira-Mar era um dos principais alvos desse sistema prisional, mais rígido. Ele foi o primeiro interno do Sistema Penitenciário Federal, em 2006. Beira-Mar passou três anos no presídio federal de Catanduvas, no Paraná, de onde foi mandado para a unidade de Campo Grande, no Mato Grosso do Sul, região Centro-Oeste, onde passou um ano e depois retornou à Catanduvas.
Ele chegou em 5 de fevereiro de 2011 em Mossoró, colocando-a em seu currículo de prisões federais: era a terceira. Agora Beira-Mar cumprirá parte da sua pena na prisão de Rondônia, na região Norte.
As cinco prisões federais foram dispostas em regiões diferentes do Brasil, dando possibilidade de enviar o chefe do crime organizado numa determinada região para outra bem distante do seu reduto, dificultando o seu poder de comando. Estão funcionando as prisões de: Mossoró (RN), Campo Grande (MS), Catanduvas (PR) e Porto Velho (RO). A quinta será construída em Brasília, no Distrito Federal.
Todas adotam o mesmo modelo e são gerenciadas pelo SPF, ligado ao Ministério da Justiça. São 208 celas, sendo oito delas para presos em Regime Disciplinar Diferenciado (RDD), que é quando ele representa um risco extremo e tem vários direitos suspensos.
O objetivo do Governo é, ao mesmo tempo, garantir um isolamento maior dos chefes do crime organizado e aliviar a tensão no sistema carcerário. Livres dos indivíduos mais perigosos, o poder local pode dar maior atenção à recuperação do restante da população carcerária.
Troca de endereço é rotina nos presídios federais brasileiros
Luiz Fernando da Costa está circulando pelas prisões federais do Brasil desde 2006, quando o Sistema Penitenciário Federal (SPF) foi criado. Desde então, já foram feitos vários pedidos judiciais de retorno às prisões estaduais do Rio de Janeiro, seu Estado de origem, mas nenhum deles foi aceito. Das três que passou, foi a de Mossoró que mais o agradou. As prisões federais adotam o mesmo padrão de segurança e rigidez, independente da região que estejam. Em Mossoró, no entanto, o traficante teria encontrado algo a mais que o agradou, segundo o advogado Otoniel Maia Júnior, que representa os interesses de Beira-Mar no Rio Grande do Norte.
Procurado ontem pela reportagem, Otoniel disse que havia conversado com Beira-Mar sobre as prisões federais que ele havia estado nos últimos anos e a de Mossoró "era a melhor". O criminoso sempre demonstrou interesse de voltar ao Rio de Janeiro, mas sua opção, dentro do SPF, era pelo presídio federal do RN.
Ao ser questionado sobre tais motivos que colocaram Mossoró na preferência do traficante, o advogado não soube explicar. "Não sei. Uma vez conversamos sobre isso e ele disse que gostava daqui. Ele devia ter os motivos dele", diz.
No presídio federal de Mossoró, assim como nas outras prisões federais que passou, Beira-Mar participava de atividades pedagógicas, direito garantido a todos os internos.
Há cerca de quatro meses, o traficante solicitou através do seu advogado o direito de estudar espanhol na prisão, além das atividades educacionais que já participava na unidade. O pedido foi negado pela direção da unidade e agora está sendo analisado pela Justiça Federal do Rio Grande do Norte.
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