Confira!
É dramático o relato do
servidor Thyago Medeiros, enviado ao Blog, que revela o descaso como o
Governo do Estado trata seus policiais, especialmente aqueles que não
estão na ativa.
Thyago é o policial
civil que, no mês de agosto, durante a Operação Êxodo, foi atingido por
um bandido, e teve dois dedos de sua mão amputados.
De cara, ele perdeu um terço dos vencimentos por não estar em exercício (!).
Imagens fortes abaixo:
Sem ajuda do Governo,
sua família e amigos tiveram de custear sua cirurgia (R$ 4.700,00) e os
medicamentos de que precisa inclusive para enfrentar a depressão. Ele
confessa: “O sentimento é de abandono estatal, pois acima de tudo estava
no exercício de minhas funções.”
Na Paraíba é assim:
“Nós, os policiais, estamos exaustos, sem férias (sempre negadas ou se
tirá-las perde ao menos 30% do salário), sem folga (sempre nos
ligam/acionam), remuneração extraordinária (50% da hora normal e não os
50% a mais da hora normal como previsto na CF), resumindo, sem os
mínimos direitos trabalhistas.” Diz outro policial, retratando o quadro
como os policiais são tratados no Governo Ricardo Coutinho.
Confira agora o relato completo da via crucis de Thyago Medeiros da Silva: “Prezado Hélder Moura,
Primeiramente quero
expor minha admiração pelo seu trabalho como jornalista, o qual
acompanho há alguns anos. Sobre os fatos, os relatarei de forma sucinta a
seguir, porém sem deixar de detalhar fatos e atos relevantes durante os
últimos 5 meses.
Meu nome é Thyago
Medeiros, tenho 28 anos, formado em Turismo e graduando em Direito. Sou
policial civil no cargo de Agente de Investigação há dois anos e oito
meses. Na data de 01 de agosto de 2013, fui convocado para participar de
uma operação policial intitulada “Êxodo” na cidade de Serra Redonda-PB.
Durante a madrugada, a equipe a qual fiz parte foi deslocada de João
Pessoa até a delegacia da cidade, onde nos foi apresentado um meliante
por foto e poucas informações repassadas.
Nos deslocamos até a
zona rural do município, onde ao localizar a casa, fomos fazer a
abordagem. De imediato fui atingido por um tiro de espingarda 12
desferido pelo bandido, o qual imediatamente amputou dois dedos da minha
mão direita, a dominante, sendo também fui atingido por estilhaços no
braço, os quais mais tarde saberia ter afetado o nervo radial, o que me
fez perder também os movimentos da mão direita.
Fui levado até o
Hospital de Traumas de Campina Grande, onde após algumas horas de muita
dor e sofrimento passei por cirurgia emergencial. O Fato é que não foi
detectada neste procedimento, uma fratura total do dedo médio da mesma
mão e outra abaixo da unha do mesmo, o que tem atrasado ainda mais minha
recuperação. Fiquei sete dias internado neste hospital.
Ao receber alta
hospitalar, retornei a minha casa em João Pessoa, onde cheguei sob
fortes dores, não conseguindo dormir a primeira noite, provavelmente
devido a falta de medicamentos fortes analgésicos como o Tramal.
No dia seguinte do
retorno, procuramos o ortopedista Antônio Almeida, onde em seu
consultório foi constatado de fato os danos ao nervo do braço e a
fratura no dedo médio. De imediato foi marcada uma cirurgia reparadora,
que incluiu a colocação de uma placa e cinco parafusos neste dedo
fraturado e a reparação dos danos no nervo. A cirurgia foi custeada
graças a doações de familiares e amigos de profissão e da faculdade no
valor de R$ 4.700,00. O Estado tentou intervir após a situação estar
toda configurada, tentando modificar o local da cirurgiam público, o que
foi recusado pela minha família, até por conta do pacote cirúrgico já
estar fechado.
A esta altura, já estava
acometido por depressão e descrenças, sendo que após a cirurgia passei a
tomar a medicação Etna, para regeneração neural e Amitril para
depressão. Durante o mês de setembro, tive um surto psicológico que me
fez pensar estar novamente na cena do incidente, cenas de terror. Fui
encaminhado ao Hospital Ortotrauma de Mangabeira na área de atendimento
psicológico, onde fui medicado e desde então passei a tomar
antidepressivo Venlaxin. A principio custeei esses medicamentos e após
um tempo a secretaria de segurança passou a custeá-los com recursos
pessoais do secretário Cláudio Lima. Recebi doações de medicamentos o
que deu certo conforto, visto que após entrar de licença médica tive
minha remuneração reduzida em cerca de R$ 1.000,00 valores relativos aos
plantões extraordinários que tirava mensalmente.
No início do tratamento
eu tive de custear fisioterapias, terapias ocupacionais e equipamentos
auxiliares no tratamento de recuperação, porém, devido aos recursos
escassos tive de abandonar a fisioterapeuta e a terapeuta ocupacional,
sendo encaminhado para fazer fisioterapia no IASS (antigo IPEP).
Consegui fazer fisioterapia de forma gratuita também na Clínica Escola
de Fisioterapia, na UFPB. Saliento que neste mês de janeiro, não estou
desenvolvendo nenhuma destas atividades visto que a UFPB encontra-se em
recesso e a fisioterapeuta que me acompanha no IASS está de férias. Isso
certamente atrasa não só a recuperação, quanto pode trazer malefícios
irreversíveis, digo isto sem conhecimento científico, mas um mês parado
pode acarretar em situações não desejáveis.
O sentimento é de
abandono estatal, pois acima de tudo estava no exercício de minhas
funções, a serviço do Estado da Paraíba, em defesa da sociedade. Houve
erros, desde a própria operação policial, onde não fomos informados da
periculosidade do bandido que aterrorizava a região, tendo cerca de 80
famílias abandonado a zona rural e uma escola fechada devido suas ações
criminosas, sempre com muita crueldade contra as vítimas (daí o nome da
operação ter sido
“êxodo”), erro do hospital de Campina, onde negligenciaram um dedo
quebrado ao meio, erro do Estado, ao não custear a cirurgia nem me
ressacir após ela realizada, até a presente data
Necessito de outros
tratamentos como o de musculação para fortalecimento do braço que perdeu
cerca de 70% de sua tonicidade e força. Tenho perdido oportunidades de
concursos, de estudos e estágios pois me vi obrigado a abandonar
momentaneamente a faculdade de Direito na UFPB.
Os prejuízos a saúde
mental foram muitos, pois até hoje não me sinto a vontade para sair de
casa, devido ao medo, aos ferimentos e danos estéticos. Os movimentos da
mão mostram uma pequena evolução. É um tratamento longo, cujo retorno
varia de 8 meses a 1 ano, isto com tratamento adequado, o que não está
ocorrendo. São vários estilhaços de munição que estão espalhados pela
mão, causando dores freqüentes.
Na minha casa, a renda
principal era a minha, devido a sua redução em cerca de 1/3, estamos
passando por algumas dificuldades financeiras, devido a remédios,
tratamentos e diminuição da remuneração. Tive de vender pela internet
diversos objetos de casa para ter dinheiro para as necessidades mais
imediatas, inclusive a alimentação, pois meu pai está desempregado e
minha mãe percebe mensalmente apenas um salário mínimo.
A Secretaria de
Segurança tem feito o que pode, mas o Estado da Paraíba como um todo
assiste pifiamente seus servidores, mesmo estando a serviço do próprio
Estado. Não temos plano de saúde, seguro de vida, auxilio doença, etc.
Se não bastasse a baixa remuneração, o alto grau de risco da profissão e
a falta de reconhecimento, nós passamos por situações como essa.
A família que antes
temia pelo integridade física, hoje sente na pele a dor de ter um ente
querido em situação de depressão e deficiência física devido aos
ferimentos em serviço. Não tenho tido acompanhamento psiquiátrico
especializado, tendo ido apenas uma vez a uma psiquiatra do IASS.
Detalhe é que este órgão se encontra com sua sede em reforma, não
atendendo ninguém.
Fui responsável por
diversas prisões na cidade de Mari, que há cerca de um ano sofria com a
grande onda de violência. Havia participado de operações em Pernambuco e
Rio de Janeiro, onde prendemos um homicida paraibano, responsável por
18 mortes na região de Mari.
Fui também submetido a
diversas vacinas para não ter complicações pelos ferimentos e
tratamentos complementares gratuitos conseguidos por “boa vontade” no
Equilibrio do Ser, próximo a minha residência.
Minha rotina de trabalho
e praticante de vários esportes agora foi trocada pela de tratamentos,
fortes medicações e incapacidade física e intelectual, esta última não
tão aparente, mas só quem passa por uma situação como essa sabe o que
sente. Não consigo dormir senão pela ação de medicamentos calmantes como
o Rivotril.
A situação já me fez
aumentar cerca de 6kg, visto que estou “parado” em casa e no tempo.
Estava de casamento marcado para 31 de maio do corrente ano, mas já
estamos vendo a possibilidade de adiar a data, visto que não tenho
condições sequer de ir sozinho aos tratamentos.
Os danos apesar de
permanentes, ainda não fui reconhecido pela Funad como portador de
necessidades especiais, bem como nenhuma anotação foi feita em minha CNH
pelo Detran.
Estava aprovado em um
concurso para Técnico de Segurança e Transporte da Justiça Federal,
porém, agora não poderei mais ao ser nomeado, assumir o cargo devido as
moléstias atuais.
Assim, uma vida que
começava e tinha vários sonhos passou a ser um pesadelo e sofrimento
diário com muitas dores e um corpo repleto de cicatrizes, que graças a
Deus tem contado com a solidariedade de muitos amigos, da família, do
secretário em pessoa e da ASPOl, associação a qual sou filiado, mas a
omissão de quem de fato deveria estar a frente da defesa do servidor é
escancarada.
João Pessoa-PB, 08 de janeiro de 2014.
Fonte: Helder Moura
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