segunda-feira, 7 de março de 2011

Polícia mapeia entrada de armas na PB; Paraguai é principal rota

De João Paulo Medeiros do Jornal da Paraíba
Armas de grosso calibre e de uso exclusivo do Exército, como fuzis e submetralhadoras, estariam sendo importadas do Paraguai e de Estados da região Norte do país por quadrilhas organizadas da região Nordeste para a prática de assaltos a banco e sequestros. Na Paraíba - que já foi alvo do ano passado para cá de mais de 15 assaltos à mão armada em instituições bancárias e 40 explosões - a polícia investiga algumas das rotas desses criminosos. No primeiro mês deste ano, as apreensões cresceram mais de quatro vezes em comparação com o mesmo período de 2010.

No fim do mês passado, por exemplo, a prisão de dois homens acusados de envolvimento com uma quadrilha especializada em assaltos e explosões a bancos em vários Estados do Nordeste em Campina Grande, revelou que uma das armas apreendidas com a dupla era um fuzil contrabandeado do Paraguai. A apreensão de armamentos com essa origem, todavia, não é isolada, conforme o delegado da Polícia Federal de Campina Grande, Gustavo Vieira Barros, responsável por parte das investigações em torno de grupos de traficantes e assaltantes na região.

“Cerca de 95% das armas de grosso calibre que temos hoje nas mãos de criminosos, como fuzis, pistolas de grande potência e metralhadoras têm origem no Paraguai e acaba passando por nossas fronteiras e chegando até aqui para serem usadas em assaltos a banco e outros tipos de roubos”, observou. O armamento pesado entraria no Brasil através de Estados como Mato Grosso e Mato Grosso do Sul e passaria por Estados do Sudeste, como São Paulo e Rio de Janeiro, sendo reenviado para a Paraíba e outras partes do Nordeste. Uma segunda rota, porém, teria como origem países como a Colômbia, Peru e as Guianas, de onde as armas partiriam com destino a Estados como Pará, Ceará, Acre e Amapá e abasteceriam mais uma vez as quadrilhas do Nordeste.

No ano passado, o Grupo Antiassalto da Polícia Civil (Gapc) do Acre prendeu o paraibano Ariovaldo Santos de Melo, de 28 anos, apontado como um dos elos no tráfico de armas de grosso calibre entre a Paraíba e o Norte do país. Ele e outros integrantes de um grupo estariam trazendo fuzis AK-47 e ponto 50, além de muita munição, do Peru, para ser contrabandeado no Nordeste. Por armas sofisticadas como fuzis, por exemplo, os criminosos chegam a pagar entre R$ 15 e R$ 20 mil. Já pistolas de grosso calibre são comercializadas no mercado negro por valores que variam entre R$ 2 e R$ 5 mil.

No relatório final da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Câmara Federal, que investigou o tráfico de armas no Brasil e ficou conhecida como ‘CPI do Tráfico de Armas’, relata que as suspeitas são de que “o Comando Vermelho (CV) seja responsável pela entrada de armas de calibre 7,62 mm, 5,56 mm e metralhadora UZI, por meio de quadrilhas que atuam na região Norte e Nordeste”. Adiante, o documento constata que os Estados de Pernambuco, Paraíba e Rio Grande do Norte são alvos fáceis de organizações criminosas que atuam “com armas obtidas no Sudeste, tomam pequenas cidades”.

O delegado da Polícia Civil paraibana, Walber Virgolino, que por vários anos coordenou o Grupo de Operações Especiais (GOE) no Estado e investigou a atuação dos bandos revelou que os traficantes de armas chegam a negociar o espingardas calibre 12, fuzis e outras armas em troca de cimento, redes, carros roubados e outros produtos. “Recentemente nós tivemos conhecimento de que pessoas aqui da Paraíba teriam ido ao Pará, onde trocariam uma carga inteira de cimento por armas. No caso do material vindo do Sudeste, como fuzis e submetralhadoras, ele chega aqui na Paraíba na maior parte das vezes quando está obsoleto. E é difícil detectar os armamentos, porque os cães farejadores não conseguem encontrar”, observou.
Comércio acontece até nas feiras livres
As armas tidas como de ‘porte baixo’, como revólveres e pistolas de calibres menos expressivos, cada vez mais se proliferam nas feiras livres e em pontos de comercialização de drogas nas periferias das grandes cidades paraibanas. A maior parte delas é fruto de roubos e pequenos furtos de residências ou estabelecimentos comerciais; ou ainda compradas ou trocadas por proprietários que desistem de manter os objetos em casa.

Tendo o uso, manuseio e fácil comercialização, os armamentos são adquiridos com facilidade em feiras livres nas cidades de Campina Grande, João Pessoa, Bayeux, Patos e São Bento. “Hoje a gente tem a feira da Prata, a feira do Oitizeiro e locais em Bayeux de onde partem boa parte dessas armas. O desafio é justamente encontrar esses pontos e identificar essas pessoas. Mas nós estamos trabalhando integrados com as delegacias da capital nesse sentido”, lembrou o delegado titular de Roubos e Furtos campinense, Iasley Almeida.

O delegado geral da Polícia Civil paraibana, Severiano Pedro do Nascimento, reconhece que muitos dos armamentos acabam chegando nas mãos de bandidos. “Há um intercâmbio entre o tráfico de drogas e o comércio dessas armas, a partir do momento em que elas chegam ao poder de criminosos. É um comércio muito difuso. Mas a polícia vem trabalhando com Inteligência e mapeando aos poucos esses locais, para termos melhores resultados”, ressaltou o delegado.

A Lei 10.826 de 22 de dezembro de 2003, conhecida como Estatuto do Desarmamento, proíbe o porte de armas por civis, com exceção para casos onde há ameaça à vida da pessoa; o porte de arma terá duração previamente determinada, mas estará sujeito à demonstração de efetiva necessidade, a requisitos para a obtenção de registro, que é expedido pela Polícia Federal, no caso dos armamentos de uso permitido.

Fonte: Portal paraíba1

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